Arroz e feijão ‘buscam’ alternativas para encarar mudanças climáticas

Por: Fernanda Pressinott — De São Paulo,

9 de março de 2023

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As mudanças climáticas podem comprometer a produção brasileira de arroz e feijão, a combinação mais famosa da culinária nacional. A adoção de políticas públicas específicas para essas culturas, além da óbvia necessidade de conservação ambiental, será fundamental para garantir que os brasileiros continuem a colocar esses dois itens no prato em 2050, mostra uma pesquisa da Embrapa Arroz e Feijão, feita em parceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), e publicada na revista científica “Agricultural Systems”.

Os autores do estudo adotaram três diferentes sistemas de modelagem para estimar o impacto das mudanças climáticas sobre o cultivo de feijão no país, o volume de produção e a demanda pelo grão no futuro. Segundo Alexandre Bryan Heinemann, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão e um dos responsáveis pelo estudo, as análises indicaram que, em 2050, as temperaturas vão subir entre 1,23 ºC e 2,86 ºC na área de produção da leguminosa no Brasil. Localidades do Centro-Oeste, de Minas Gerais e da Bahia serão as mais afetadas.


O pesquisador lembrou que certa concentração de gás carbônico na atmosfera ajuda as plantas na fotossíntese e no ganho de produtividade. Mas o prejuízo causado pelo aumento da concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera e pela alta das temperaturas é muito maior porque interfere especialmente na fase reprodutiva da lavoura, causando o abortamento de flores e a não-formação de vagens na planta. Com isso, com a elevação das temperaturas, a tendência é que a produtividade diminua.

Para elaborar os cálculos, o pesquisador levou em consideração o aumento da demanda por feijão segundo os critérios do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), de Nova York, que relaciona população e consumo de alimentos. A expectativa é que, até meados de 2050, o consumo no Brasil cresça 1,5 milhão de toneladas, ou 44%, em relação ao volume atual, de 3 milhões de toneladas ao ano.

“São situações contrapostas: existe o impacto negativo do aquecimento global na produtividade e uma previsão de mais demanda pelo produto”, afirmou. Questionado pelo Valor sobre o fato de o consumo de feijão estar em queda no país no momento, Heinemann disse que não fez um estudo levando isso em consideração. 

Pauta política


Para o pesquisador, o equilíbrio entre produção e consumo passa pela discussão de políticas públicas. “Os resultados da pesquisa colocam em debate assuntos como a expansão de novas áreas de produção de feijão, investimentos em pesquisa para a geração de cultivares mais adaptadas a estresses abióticos e melhoria em eficiência no manejo das lavouras”, avalia.

Em outro trabalho, Heinemann analisou o potencial impacto das mudanças climáticas sobre a produção de arroz de terras altas no Brasil. A região, que engloba Rondônia, Goiás, Mato Grosso e Tocantins e cultiva o cereal entre novembro e janeiro, colhe apenas 5% da produção nacional. O restante é quase todo semeado no Rio Grande do Sul, com irrigação.


A partir de dados do solo, das épocas de semeadura, do zoneamento agroclimático para a cultura e de registros históricos de estações meteorológicas do Instituto Brasileiro de Meteorologia (Inmet), os pesquisadores estimaram que a oferta de água necessária às lavouras de arroz de terras altas diminuirá entre 40% e 60%. “Essa pesquisa aponta a necessidade de redução da emissão de gases de efeito estufa para diminuir a pressão sobre o aquecimento global e, como desdobramento, para a mitigação de possíveis mudanças climáticas”, disse Heinemann.

Para ele, os programas de melhoramento do arroz no Brasil precisam intensificar os estudos sobre a adaptação da cultura à seca em condições de estresse, especialmente nos estágios reprodutivo e de fim de ciclo das lavouras. “Os melhoristas da Embrapa se baseiam no passado e levam dez anos para lançar uma nova cultivar, afirma o pesquisador. “Muita coisa tende a mudar no clima nesse período e isso precisa ser pensado”.

Fonte: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2023/03/06/arroz-e-feijao-buscam-alternativas-para-encarar-mudancas-climaticas.ghtml

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