Warley Marcos Nascimento
Pesquisador da Embrapa Hortaliças
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O grão-de-bico (Cicer arietinum L.) é uma das mais importantes espécies cultivadas no mundo, com cerca de 15 milhões de toneladas produzidas em uma área cultivada de 14 milhões de hectares em dezenas de países. É considerado um alimento com elevado valor nutricional e de fácil digestibilidade, sendo uma excelente fonte de proteína vegetal (cerca de 21 g / 100 g do grão), fornecendo ainda minerais como cálcio, fósforo, ferro e vitaminas A e do complexo B; rico também em fibras, o grão-de-bico faz parte dos alimentos considerados de baixo índice glicêmico, que são aqueles que, entre os seus benefícios, promovem maior saciedade e auxiliam no controle de açúcar do sangue.
Outro ponto favorável do grão-de-bico, está relacionado à presença, na sua composição, do triptofano, aminoácido responsável pela produção da serotonina, que é a substância que atua como neurotransmissora, capaz de alterar várias áreas do nosso cérebro, promovendo a sensação de satisfação e bem-estar. Por isso, o grão-de-bico é chamado o grão da felicidade. Alguns estudos demonstram que a leguminosa apresenta o mesmo efeito que o chocolate na produção de serotonina, tendo como vantagem um menor valor calórico.
O Brasil tem sido um tradicional importador de grão-de-bico, e grande parte do consumo dessa importante leguminosa no país tem sido suprida por importações. Mesmo que a produção nacional de grão-de-bico no país tenha aumentado nos últimos anos, tem-se observado uma maior importação deste grão a cada ano (somente em 2024, o Brasil importou cerca de 11,6 mil toneladas do grão, totalizando US$ 11,5 milhões, sendo o México e a Argentina, os dois principais fornecedores).
Isso indica um aumento do consumo interno de grão-de-bico no país nos últimos anos, e um dos fatores que possivelmente tem contribuído para este aumento é devido ao crescimento da população vegetariana ou vegana no país; pesquisas mostram que no Brasil existem cerca de 30 milhões de pessoas vegetarianas, de acordo com o Good Food Institute (GFI, 2022). Este público, que demanda mais proteína vegetal, ou produtos “mais saudáveis”, tem incluído, em sua dieta alimentar, o grão-de-bico, por ser uma excelente fonte de proteína vegetal, e uma alternativa saudável às proteínas de origem animal.
Vale salientar que existe uma demanda crescente de proteína vegetal por segmentos que buscam alternativas para pessoas em dietas vegetarianas e veganas. Nesse último aspecto, observa-se, no mundo, um crescimento expressivo de produtos plant-based, como hambúrgueres, salsichas, nuggets, ovos, entre outros, à base de leguminosas de grãos secos, incluindo o grão-de-bico. Também, cresce a demanda por produtos farináceos, sem glúten, voltados para pessoas intolerantes ou mesmo celíacas (incapacidade de digerir o glúten, uma proteína encontrada em cereais como o trigo, centeio, cevada etc.). Como o grão-de-bico é isento em glúten, ele vem sendo utilizado, como farinha, na elaboração de pães, massas, pizzas e vários outros produtos. A Embrapa tem, inclusive, trabalhado em processos para a obtenção de concentrado proteico de algumas leguminosas, onde no grão-de-bico, obteve-se um concentrado de 77% de proteínas; este concentrado pode ser utilizado como ingrediente para aumentar o teor de proteína de alimentos à base de vegetais que são similares a produtos de origem animal, tais como aqueles mencionados anteriormente. O grão-de-bico, uma espécie de origem asiática e de cultivo milenar, é consumido praticamente no mundo inteiro. A atual busca incessante por uma alimentação saudável nos leva a concluir a importância de ampliar o conhecimento sobre as potencialidades do uso do grão-de-bico. Um grão bastante versátil no preparo de pratos, podendo ser utilizado em uma infinidade de combinações, seja em saladas, sopas, pastas (hummus), torrados, farinhas, doces etc., e claro, variando as diversas receitas entre os diferentes países. E aí, vamos consumir mais grão-de-bico? Prepare a sua receita e seja mais feliz!