SINGAPURA – Pulses, ou sementes comestíveis de plantas como o Grão-de-bico e a Lentilha, estão sendo apontadas como uma das soluções mais promissoras para consertar o sistema alimentar global, atualmente sob forte pressão ambiental e social.
Apesar da crescente demanda global, a produtividade das Pulses tem se mantido estagnada nas principais regiões produtoras, como Índia e Canadá. Segundo Anuj Maheshwari, diretor administrativo e chefe da divisão de agroalimentação da Temasek, essa estagnação é reflexo direto da falta de investimentos e de políticas públicas eficazes. A declaração foi feita durante sua palestra na conferência Pulses 25, realizada em Singapura.
O evento, promovido pela Global Pulse Confederation (GPC), reuniu representantes de mais de 20 associações nacionais e 500 entidades do setor privado no Fairmont Hotel, destacando o papel central das Pulses no futuro da alimentação sustentável.
Pulses: mais ecológicas, nutritivas e resilientes
Durante sua apresentação, Maheshwari defendeu avanços em toda a cadeia de valor das Pulses, desde o melhoramento genético até melhorias logísticas e de mercado. “As Pulses produzem 90% menos emissões por grama de proteína em comparação com a carne bovina. Elas consomem metade da água utilizada por culturas como soja e milho para gerar a mesma quantidade de calorias e requerem 20 vezes menos terra do que proteínas de origem animal”, afirmou.
Outro destaque apontado por Maheshwari é a capacidade das Pulses de fixar nitrogênio atmosférico, um processo biológico que reduz a dependência de fertilizantes sintéticos e ajuda a mitigar as emissões de gases de efeito estufa. “Se a carne bovina é um Hummer, pesado e poluente, as Pulses são como os carros elétricos da alimentação — eficientes, sustentáveis e preparadas para o futuro.”
Sistema alimentar ultrapassado e ineficiente
Para Maheshwari, o sistema alimentar atual está não apenas quebrado, mas também ultrapassado. Responsável por um terço das emissões globais de gases de efeito estufa e pelo uso de 70% da água doce mundial, o setor agrícola ainda produz majoritariamente calorias com baixo valor nutricional.
“Esse sistema foi concebido para produzir volume, não resiliência; eficiência, não sustentabilidade; produtividade, não saúde”, criticou o executivo da Temasek. Ele alertou que, apesar de alimentar mais pessoas do que nunca, cerca de 735 milhões de pessoas ainda sofrem de desnutrição — número concentrado principalmente na Ásia e na África.
Murad Al-Katib, CEO da AGT Food and Ingredients, reforçou o alerta, mencionando que até 3 bilhões de pessoas vivem anualmente em condições de insegurança alimentar. “Os recursos mais escassos do mundo hoje são terra e água”, destacou.
Inovação e investimentos estratégicos
Maheshwari também apontou que o crescimento da produção de Pulses nas últimas duas décadas foi inferior a 1% ao ano — ritmo bastante inferior ao observado em culturas como milho e soja, que se beneficiaram de inovações em biotecnologia, práticas agronômicas e mecanização.
“Apesar do enorme potencial das Pulses para sistemas alimentares regenerativos, elas ainda são subfinanciadas, subdesenvolvidas e pouco valorizadas. Precisamos contar histórias melhores sobre as Pulses e seu impacto positivo”, afirmou.
A Temasek investiu mais de 10 bilhões de dólares de Singapura nos últimos dez anos em inovações no setor agroalimentar. Entre as empresas apoiadas estão a Impossible Foods, que desenvolve carnes vegetais, e a Growthwell Foods, de Cingapura, que trabalha com uma startup israelense para incorporar proteína de Grão-de-bico em novos alimentos.
“Precisamos de uma transformação alimentar, e as Pulses — humildes, mas poderosas — têm um papel fundamental nessa mudança”, concluiu Maheshwari.
Impactos comerciais e incertezas globais
Lief Chiang, diretor executivo da RaboResearch (Rabobank), observou que os principais exportadores globais de Pulses são Canadá, Austrália e Rússia, enquanto Índia, China, Paquistão e Bangladesh lideram entre os importadores. Os Estados Unidos representam apenas 7% das exportações e 3% das importações globais.
Segundo Chiang, os impactos diretos de conflitos comerciais — como a guerra tarifária dos EUA — sobre o mercado global de Pulses ainda são limitados, embora efeitos indiretos, como aumento no custo de frete marítimo, já estejam sendo sentidos. “Os efeitos de longo prazo vão depender dos desdobramentos das negociações comerciais em curso”, disse.
Durante a abertura do evento, Vijay Iyengar, presidente do GPC, defendeu que governos desenvolvam políticas comerciais estáveis e transparentes para reduzir riscos no comércio de Pulses. “Apelo às associações nacionais para que defendam políticas de comércio livre e justo, fundamentais para o crescimento do nosso setor”, declarou.
Com informações de The Business Time