Com mais de 50 anos dedicados ao estudo do clima, o Dr. Luiz Carlos Molion é um dos nomes mais respeitados no cenário científico brasileiro e internacional. Doutor em Meteorologia e pesquisador com vasta experiência, Molion é reconhecido por sua impressionante taxa de acerto em previsões climáticas – um diferencial crucial em um país agrícola como o Brasil, onde quem planta precisa saber, com antecedência de 3 a 4 meses, o que esperar do clima.
Ao longo de sua carreira, ele vem alertando que, sim, há mudanças climáticas em curso – mas que essas transformações não são, como frequentemente se afirma, consequência direta da ação humana. Suas análises vão na contramão do discurso dominante e são amparadas por dados, pesquisas e décadas de observação prática.
Produtores rurais e especialistas que seguem suas previsões afirmam estar sempre um passo à frente daqueles que baseiam suas decisões apenas em modelos padronizados. Isso faz de suas contribuições uma referência indispensável para quem precisa tomar decisões reais, no campo e na formulação de políticas públicas.
Nesta entrevista exclusiva, Dr. Molion comenta com clareza e contundência a recente decisão da Corte Internacional de Justiça, em Haia, que declarou as mudanças climáticas como uma ameaça urgente e existencial causada pelas emissões humanas. Ele analisa os riscos dessa interpretação, a fragilidade dos modelos que a sustentam, e alerta para os impactos políticos e econômicos que podem recair – injustamente – sobre países em desenvolvimento como o Brasil.
Acompanhe a seguir os principais pontos da entrevista.
Pergunta: Professor Molion, recentemente a Corte Internacional de Justiça, em Haia, fez uma declaração importante sobre mudanças climáticas. O que exatamente aconteceu?
Molion: No dia 23 de julho, a Corte Internacional de Justiça – a mesma que já julgou ditadores e criminosos de guerra – declarou que as mudanças climáticas são uma ameaça urgente e existencial para a humanidade. O presidente da Corte, Joan Donoghue, afirmou que as emissões de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxidos de nitrogênio, são inequivocamente causadas por atividades humanas e que não se limitam a fronteiras territoriais.
Pergunta: E qual a sua avaliação dessa decisão?
Molion: É inacreditável que uma corte supostamente de alto nível julgue unilateralmente uma questão dessa magnitude sem uma análise crítica mais profunda, sem evidências concretas. A única “prova” que apresentam são resultados de modelos climáticos que, até hoje, não conseguem reproduzir o clima global com precisão, muito menos prever com confiabilidade o que acontecerá no futuro.
Pergunta: O senhor está dizendo que faltam dados para embasar essa decisão?
Molion: Sim. Os magistrados ignoraram que as fontes naturais de carbono no mundo somam cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono por ano, com uma incerteza de 40 bilhões para mais ou para menos. Ou seja, temos um erro de 40 bilhões de toneladas no conhecimento atual. O homem, por sua vez, emite apenas cerca de 9 bilhões de toneladas por ano – algo em torno de 10% desse erro. Isso mostra como nosso conhecimento é ainda muito limitado.
Pergunta: Há outros fatores que não foram considerados?
Molion: Sem dúvida. Recentemente, descobriram mais 19 mil vulcões submarinos ativos, que também emitem gases e calor para os oceanos. Isso demonstra como nosso conhecimento sobre as emissões e o clima ainda é pífio. Mesmo assim, a Corte resolveu condenar os gases de efeito estufa como vilões globais, sem considerar o papel essencial do CO₂.
Pergunta: O senhor poderia explicar melhor esse papel do CO₂?
Molion: O dióxido de carbono não controla o clima global. Ele é, na verdade, o gás da vida. As plantas realizam fotossíntese a partir do CO₂, e sem plantas não existiria vida animal nem humana. Reduzir CO₂ de forma drástica pode ter impactos sérios na produção agrícola e na segurança alimentar.
Pergunta: Essa decisão da Corte tem algum efeito prático imediato?
Molion: A decisão não é vinculativa, ou seja, tem caráter de recomendação. Porém, ela tem peso jurídico e político. Pode interferir na formulação de políticas públicas, especialmente em países em desenvolvimento, no que se refere, por exemplo, à geração de energia elétrica. Hoje, 65% da energia mundial ainda vem de combustíveis fósseis. Essa interferência pode afetar a soberania nacional, o desenvolvimento econômico e o bem-estar social.
Pergunta: O senhor acredita que essa decisão pode atingir diretamente países como o Brasil?
Molion: Sim. O Brasil depende do agronegócio, que emite CO₂ e óxido de nitrogênio. Depende também da pecuária, que emite metano. Isso pode levar alguns a nos acusar de “poluir o mundo” e até tentar nos processar internacionalmente.
Pergunta: E quais seriam as consequências disso?
Molion: Pode ser grave. Em 2023, o Índice de Desenvolvimento Humano mostrou que apenas 37 países têm IDH acima de 0,9, considerado alto. Faltam 170 países para alcançar um padrão de vida adequado para suas populações. Com tantos problemas urgentes – como guerras, falta de água potável, saneamento básico e energia elétrica – é preocupante ver a Corte priorizando os gases de efeito estufa dessa forma.
Pergunta: Qual é a sua recomendação final?
Molion: Precisamos ficar em alerta. Essa decisão, com “suporte jurídico” questionável, pode abrir precedentes perigosos e afetar diretamente o futuro econômico e energético de países em desenvolvimento, como o Brasil.